«Orgulho» em Olhão é o legado que António Pina diz deixar aos olhanenses

Presidente da Câmara de Olhão fez um balanço dos (quase) três mandatos à frente da autarquia, cerca de um ano antes de passar o testemunho

Foto: Cátia Rodrigues | Sul Informação

O principal legado que deixará aos olhanenses e a Olhão, após 12 anos como presidente da Câmara, é «o orgulho na sua cidade e no seu concelho», mas António Miguel Pina diz que também deixa um município com um parque escolar renovado e com grande capacidade de resposta, bem como trabalho feito na habitação – que, ainda assim, é uma área onde ficará muito por fazer.

Numa entrevista ao Sul Informação, António Miguel Pina, que está a entrar na reta final do seu terceiro mandato consecutivo à frente dos destinos da Câmara de Olhão – o que, por lei, o impede de se recandidatar -, fez um balanço do que foi a sua atuação, enquanto presidente da Câmara, frisando, desde logo, o crescimento do turismo e da notoriedade da cidade e do concelho, a nível nacional, mas também internacional.

«Hoje os olhanenses, os algarvios e mesmo aqueles que nos visitam, permitam-me a imodéstia, olham para a gestão destes últimos dois, três mandatos como algo que transformou o concelho. Olhão era uma terra que “cheirava mal”, que era vista com algum desdém, para além de outros clichés que não quero pronunciar (risos)», enquadra.

Mas, «de repente, com o trabalho de todos, com o trabalho dos empresários e com o trabalho da autarquia – seja com a reabilitação urbana que foi fazendo, mas também com a forma como foi comunicando a magia do concelho – mudámos!».

«Aquele que era o patinho feio da região passou a ser uma das partes do território onde as pessoas gostam de viver, que as pessoas gostam de visitar, onde gostam de ficar, ir jantar, almoçar, ir passear na Ria Formosa. Acho que, acima de tudo, aquilo que deixamos aos olhanenses é orgulho, é esse o principal legado. Hoje, os olhanenses têm orgulho na sua cidade», afirma.

No fundo, Olhão «passou a estar na moda», o que trouxe muita gente de fora, nomeadamente novos habitantes para os bairros típicos da Barreta e e Levante, situados frente à Ria Formosa e aos Mercados Municipais, que compraram e renovaram casas – e até criaram novos negócios.

 

Foto: Cátia Rodrigues | Sul Informação

 

Esta transformação foi boa, na visão de António Miguel Pina.

«Ainda bem que essas pessoas vieram, porque os olhanenses não viviam aqui, porque deixaram de querer viver nestes bairros», afirma.

O presidente da Câmara de Olhão considera mesmo «exagerado esse lamento que às vezes ouvimos do “ai, ai, ai, os centros históricos ficam sem pessoas autóctones”».

«É normal, porque às vezes não é fácil viver neste tipo de casas, que são exíguas, e em zonas onde não é possível estacionar. E as novas gerações foram-se deslocando para a periferia, para loteamentos, moradias, apartamentos onde têm cave com estacionamento, onde têm elevadores, onde têm outras condições», acredita.

«Estas zonas históricas são, de certa maneira, charmosas, mas para viver partes do ano, quando já estamos numa fase da vida onde muitas vezes é só um casal, em que, com um saquinho de compras, se faz o dia-a-dia. Não se tem de ter um carro, não tem de se ter onde estacionar», acrescenta.

Apesar de salientar que há olhanenses que estão «a regressar» a estes bairros, principalmente casais mais velhos, admite que os preços das casas, nestas zonas, começam a ser proibitivos para muitos habitantes do concelho e da região e que, muitas vezes, são só os investidores vindos de fora que «têm a capacidade de comprar e reabilitar essas casas».

Quase na hora da saída, apesar de afirmar não ter mágoa de não ter conseguido realizar «todos os sonhos» que tinha, porque «faz parte», aponta a habitação como a área em que ficou mais trabalho por fazer,  apesar de até ter avançado obra.

«Ainda antes de se falar deste tema da falta de habitação, já nós estávamos a construir casas a custos controlados. Os tempos das coisas… é quase um mandato para obras desta dimensão. É tempo a mais para dar a resposta célere e urgente que as pessoas precisam na habitação. Ou seja, a meio dos mandatos, percebemos que tínhamos um problema grave e que piorou nos últimos anos», admite.

«Começámos o processo da habitação, mas já não o vamos concluir. Mas este é um trabalho de uma grande dimensão que vai ser, certamente, o centro dos próximos mandatos», nomeadamente «o projeto de construção de 300 fogos na antiga litografia», casas que deverão ser destinadas ao arrendamento acessível, muito focado nas famílias e jovens da classe média baixa (mas não só).

Ou seja, serão «os próximos autarcas que vão ter que lidar» com estes investimentos, embora, até ver, lhes faltem «instrumentos para isso».

E o ainda presidente da Câmara de Olhão explica porquê: «do ponto de vista territorial, parece-me que vai ser mais fácil adquirir terrenos a preços muito mais reduzidos, tendo em conta a possibilidade que o município tem de decidir sobre a alteração do uso do solo, ou seja, passar solos rústicos e agrícolas para se poder construir. Fica a faltar um instrumento financeiro».

«Houve aqui umas linhas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), mas é preciso criar um instrumento que permita aos municípios endividarem-se em milhões. Estamos a falar de muitos milhões… estas 300 novas casas, se for tudo para arrendamento [rendas acessíveis], estaremos a falar em 70 ou 80 milhões de euros. E são só 300! Se calhar o município precisa de mais 700. É preciso conseguir gerir esta dívida, se a estratégia for ter habitação pública para arrendamento, que eu acho que devia ser. Mas isso significa que temos que conseguir gerir uma dívida tremenda, que se paga, mas a 30 ou 35 anos».

 

António Miguel Pina

 

António Miguel Pina destaca, por outro lado, o trabalho que foi feito na área da educação, «que foi de longe o nosso maior investimento, não aquele que fizemos na Frente Ribeirinha», de requalificação dos jardins Pescador Olhanense e Patrão Joaquim Lopes.

«Conseguimos renovar o parque escolar, que era um desafio, estamos a aumentar o pré-escolar, deixando uma rede quase de 100% de cobertura», salienta.

Para concluir a rede pré-escolar, «diria que faltam mais 24 salas de aula. Vão começar já seis, estamos a projetar mais 12, já só ficam a faltar outras seis».

«Investimos, pelo menos, uns 15 milhões de euros em escolas. Demos a volta às escolas quase todas. Só na Paula Nogueira, foram 5 milhões de euros. E vai começar agora a reabilitação da Escola Básica nº 1. São quase 20 salas de aula, mais a construção de um pré-escolar, que implica mais um milhão e meio de investimento. Esse, sim, foi o nosso foco, estamos muito bem, na área da educação», conclui.

 

 

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